sábado, 20 de abril de 2013

FUGA DO CAMPO 14: A TRAJETÓRIA DE UM SOBREVIVENTE

"Livro do jornalista Blaine Harden conta a história de um sobrevivente do trabalho escravo na Coreia do Norte"

Por João Messias Jr.

Não importa o estilo do livro, só sabemos se ele realmente é bom quando conseguimos "enxergar" a história ao folhear suas páginas. E esse livro do jornalista Blaine Harden atinge esse conceito com louvor. 

Fuga do Campo 14
Divulgação
A obra conta a história do norte coreano Shin Dong-hyuk, que desde a infância teve como referência educação a obediência e a submissão aos comandantes do Campo 14, onde caso não fizesse o que fora proposto, era brutalmente punido, uma realidade distante dos valores e conceitos de família.

Junto com os trabalhos forçados, o protagonista, assim como os outros prisioneiros, era obrigado a delatar quem não cumpria as tarefas da forma estipulada.

E numa delação que ocorre o primeiro clímax do artefato: ao perceber que sua mãe e irmão mais velho resolvem fugir, Shin, sem piedade, os entrega aos capatazes e assiste a execução dos dois.

Seguindo os "procedimentos" do Campo 14, Shin fez isso pensando que ganharia uma promoção ou algo do tipo, mas não foi isso que aconteceu, pois foi brutalmente torturado e jogado em uma jaula como um animal. Quase morto, só não veio a falecer graças ao seu companheiro de cela, Tio, que cuida de suas feridas.  

Depois de solto, volta a sua antiga rotina, dessa vez em uma oficina de costura. Lá, conhece Park Young Chul, que ao contrário de Shin, conhecia o mundo além das fronteiras do Campo 14. Com seu jeito educado, ganha a confiança do protagonista, e daí surge uma grande amizade. Dessa forma, Park conta sobre a realidade do mundo, locais, restaurantes, e nessas conversas, surge o plano de fuga.

Nem tudo dá certo, pois apesar de livre, Shin se depara com outros problemas: a morte do amigo ao tentar fugir, a adaptação de um novo mundo, além de saber para onde ir, o que fazer e como sobreviver fora das grades do Campo 14, pois apesar de estar fora, mentalmente estava preso.

Além da história envolvente, é de se destacar o trabalho do jornalista, pois paralelamente ele conta a realidade das duas Coreias, a opinião de diversos especialistas sobre o comportamento de ex-prisioneiros.

Talvez a única ressalva que os leitores possam apontar é uma espécie de LIDE no começo do livro, que faz uma espécie de síntese do que virá pela frente, mas que não chega a comprometer. 

Como eu disse nas primeiras linhas, a trama te prende de tal forma, que te faz pensar que apesar das desigualdades evidentes, temos a possibilidade de construir um futuro digno e feliz, ao contrário de muitos "Shins", que ainda vivem nestes campos de trabalho escravo.